O atual momento político
brasileiro e potiguar tem peculiaridades que redimensionam o jogo político e o
tabuleiro eleitoral. Nas últimas eleições presidenciais, embora os escândalos
de corrupção tenham freqüentado os jornais cotidianamente, não havia o acumulo
de tanta insatisfação do povo como hoje. Nas últimas duas décadas não tínhamos
vivenciado manifestações de rua como as que eclodiram em junho do corrente ano.
Os manifestos que tiveram seu estopim a partir da problemática do transporte
público com o aumento das passagens reverberaram muitas insatisfações e
inquietações da população com os gargalos do serviço público e a endêmica
corrupção brasileira.
A corrupção que no Brasil
parece ser uma cultura herdada da colonização portuguesa e os graves problemas
nos serviços públicos é o reflexo do que ocorre no país e nas democracias
burguesas: um imenso abismo entre o povo e o poder. Uma classe dirigente e
dominante mantém o país nos trilhos do capitalismo e neste sentido as
democracias burguesas estão para nós como uma santa de altar de onde não se
espera mais milagres, como diria o escritor português José Saramago. No Oriente
a “Primavera Árabe” é demonstração que os regimes ditatoriais estão fadados ao
fracasso assim como as democracias burguesas estão fadadas ao contentamento
como aponta o professor e cientista político Homero Costa em artigo intitulado
“As manifestações e a crise de representação política no Brasil” ao afirmar que
“uma das poucas certezas é a de que
vivenciamos uma crise de legitimidade das instituições e um profundo mal-estar
com a democracia existente no país. O problema central, portanto, me parece ser
o da falta de legitimidade das instituições de representação. Há um esgotamento
e uma descrença nelas que não é específica do Brasil, mas das democracias
representativas de uma maneira geral” (Blog Substantivo Plural, 2013).
No Rio Grande do Norte,
especificamente, o calor das ruas colocou em xeque-mate a aparência de
“político e gestor moderno” do prefeito da capital, Carlos Eduardo Alves, nos
debates e embates protagonizados entre os setores populares estudantis e o
Poder Público em torno da questão do transporte público. No plano estadual foi
protocolado na Assembléia Legislativa o pedido de impeachment da governadora
Rosalba Ciarlini Rosado, assim com existe o apontamento de que o pedido seja
submetido a votação. Este definitivamente é um acontecimento inédito e que
entra para os anais da história potiguar já que da colonização a democracia
potiguar esta é a primeira vez que, de fato, um governante em nível de Estado
sofre o perigo real de uma deposição.
Na maré de incertezas
políticas que apenas cresceu a partir das Jornadas de Junho do corrente ano, o
que podemos perceber é que os discursos da classe política dominante no RN são
mediados única e exclusivamente pelo oportunismo. Temos no Rio Grande do Norte
o império do oportunismo que se traduz em falas e posicionamentos da classe
dominante.
Historicamente o estado
potiguar foi conhecido por ser um reduto político da família Alves que trás na
sua práxis política a alma e a
essência perfeita de um coronelismo “moderno” que sobreviveu ao fim da
República Velha parecendo herdar da família Albuquerque Maranhão a mesma cede
de poder, adentrou pela democracia burguesa e instituiu o PMDB como instrumento
representativo de seus interesses. Uma legenda cartorial que serve como objeto
para os fins políticos do clã. No Oeste potiguar a dinâmica é a mesma, mas o
sobrenome é outro: Rosado. Esta família, assim como os Maias e Farias são parte
de um conluio que divide com alternâncias o poder político nas terras
potiguares. O Partido dos Trabalhadores – PT, que nos anos 80 do século passado
servia como contraponto a esta lógica hoje confraterniza com os setores do
conservadorismo político potiguar e brasileiro e participa – sem pudor – dos
jantares servidos pelas velhas oligarquias.
Neste cenário os
discursos dos postulantes ao Governo do Estado transparecem como a expressão
acabada e fiel do oportunismo político e eleitoral. Todos – Wilma do PSB,
Garibaldi Filho, Henrique Alves, Walter Alves, Fernando Bezerra do PMDB, o
neo-oposicionista Robinson Faria do PROS e o petista Fernando Mineiro – repetem
a mesma ladainha sacramentada de que o Governo do Estado é inoperante,
incompetente e inaugurou um período de caos no Rio Grande do Norte. Isto
qualquer criança ingênua de 12 anos é capaz de afirmar, contudo, o que eles se
esquecem de afirmar é que o Governo Rosalba nada mais é do que um desdobramento
de um modelo político patriarcal, oligárquico, conservador e retrogrado que
perdura há anos no RN. O que eles esquecem de falar é que se “vendem” como
heróis da pátria, sem citar que carregam o sobrenome e as práticas da gênese do
problema. Sendo assim, apenas um partido de oposição à ordem – PSOL, PSTU, PCB
– são capazes de apresentar um projeto alternativo que destoe do que há décadas
é apresentado como solução para o RN.
Como diria Winston
Churchill “uma mentira dá uma volta inteira
ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”, neste
sentido, cabe aos partidos que representa de forma real os interesses de
trabalhadores e estudantes acordar na madrugada e vestir-se mais cedo.
Por Modesto Neto*
Ótimo texto, analise perfeita e citações que enriquecem o texto e mostram o domínio sobre o assunto. Só lamento que apesar desses discursos estarem falidos, ainda são os discursos que são comprados pela população pobre do RN.
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